Um
ator/atriz pornográfico ou
estrela pornô é alguém que aparece em filmes ou fotografias pornográficas, shows de sexo ao vivo ou
peep shows. A maior parte dos atores e atrizes podem aparecer nus em filmes (geralmente filmado em gêneros de sexo explícito). A maior parte de gêneros têm especialistas que realizam a maior parte do seu reconhecimento em um mercado de nicho específico como bondage, sexo com strap-on, escancarado, sexo anal no geral, dupla penetração.
Algumas jurisdições consideram a pornografia comercial de uma forma de prostituição, embora a maioria dos executantes de filmes sexuais não se consideram prostitutas por diversos motivos, mas sim como artistas.
Fonte: Wikipedia
Jamie trabalha na indústria do sexo. Trabalha de 12 a 16 horas diárias por apenas um dólar. E passa fome. Precisa do dinheiro para ajudar os pais.
Parece PPP (
papo padrão de puta), mas Jamie está mandando a real e é uma entre milhares de mulheres que está dentro do seu computador nesse exato momento.
Meu nome é Jamie. Eu moro dentro do seu computador. [link do vídeo]
Essas mulheres que vivem dentro do nosso computador estão espalhadas por todo o mundo, principalmente Estados Unidos, Canadá e Europa. É questão de tempo para que alguém apareça no Brasil para explorar o mesmo serviço (afinal, apenas 25% ficam na mão da garota).
A história de Jamie é apenas um pedacinho do universo que se revela na pornografia.
Antes de começarmos com a parte cabeluda, que uma coisa fique clara: não estou condenando nem fazendo apologia da pornografia. Cada pessoa tem o discernimento de fazer sua análise final, mandando bronca nos comentários.
A insider: Jenna Jameson
Quem revela os segredos podres da indústria do pornô é nada menos do que a queridinha da América, Jenna Jameson. Junto com o jornalista Neil Strauss, ela publicou o bestseller
How to make love like a porn star: a cautionary tale.
Quem seria melhor do que a Jenna Jameson para contar o lado obscuro da pornografia?
De todos os dramas narrados por Jenna Jameson, o mais recorrente é o tema de pessoas complicadas que habitam o mundo pornô: fotógrafos exploradores, cafetões de terno, namorados e fãs desequilibrados, concorrentes desleais e certos produtores e atores de
gonzo porn.
Os maus produtores de gonzo
Gonzo porn é uma referência ao jornalismo gonzo, no qual o repórter faz parte do evento. A pornografia gonzo tem um estilo realista que procura aproximar a câmera das cenas, com poucos diálogos ou preparação.
Como tudo na vida, existem os bons e maus profissionais.
John Stagliano, mais conhecido como Buttman, recebe créditos por ter popularizado o gênero gonzo e rebate as críticas de que o gonzo é intrinsecamente mal feito. Para ele, a ideia do gonzo é amplificar a sexualidade, usando muitos closes, cenas longas e intensidade em todos os sentidos. Buttman diz que um bom produtor de gonzo sabe trabalhar a sequência de ângulos, luminosidade e clímax.
Porém, a percepção do gonzo muitas vezes vem dos maus produtores, que usam o gonzo como porta de entrada para o mundo do porn. É mais barato e mais simples:
basta uma câmera na mão e uma mulher disposta a abrir as pernas.
Sexo na van: a série Californication aborda sem moralismos o universo do pornô gonzo
Jenna Jameson conta como os maus profissionais podem desrespeitar suas atrizes, que passam por todo tipo possível de humilhação. Imagine uma novata chegando sozinha em um muquifo no subúrbio de Los Angeles, encontrando uma equipe de pintos sem qualquer consideração pela mulher. É quando a linha entre a sensualidade é cruzada e vem a degradação.
Infelizmente é essa a experiência de milhares de meninas ludibriadas para fazer um filme barato com produtores nada profissionais. O resultado é um trauma irreversível, para nunca mais voltar para as câmeras e permanecer com marcas psicológicas (e em alguns casos físicos) para sempre.
Exploradores
No começo da carreira, o nome “Jenna Jameson” não existia. Seus pedidos de uso desse nome artístico eram sumariamente ignorados pelos editores, que inventavam diferentes nomes para ela, junto com entrevistas inventadas, sem a consultar.
Depois de rodar em publicações de segunda categoria, Jenna começou a trabalhar com fotógrafos mais reputados, como Suze Randall. No livro, Jenna mete o pau em Suze, contando como foi explorada até a última gota, fazendo infinitas sessões de fotos que foram distribuídas por todos os cantos do planeta, já que Jenna havia concordado em ceder os direitos por meio de um contrato leonino. Suze Randall ficou na lista negra de Jenna, que mantém distância e rancor.
Apesar de imaginar como deve ser ter o sentimento de que alguém mais poderoso está faturando em custas do trabalho pessoal, acho que uma parte intangível é negligenciada por Jenna: parte de seu sucesso como a rainha do pornô americano é justamente pelo trabalho artístico de qualidade de Suze Randall. Nessas fotos, e na explosão da Web na década de 90, é que Jenna se tornou presença universal em todos os cantos e sonho de consumo de homens… e mulheres. Jenna teve um relacionamento bissexual com
Nikki Tyler e até hoje são amiguinhas.
Os cafetões engravatados são experts em ganhar a confiança das novatas inseguras e mesmo de atrizes experientes. Os piores não perdem tempo e logo no primeiro encontro já dizem que para poder trabalhar eles precisam testar as meninas e impõem o
teste do sofá, apesar de ser uma prática desaconselhada.
Outros usam de poder e sedução em um jogo continuado, namorando as meninas e se tornando seus “agentes”. Em muitos casos, as meninas acabam sem dinheiro algum e no fim da carreira sem ter o que fazer ou para onde ir. Claro que elas também têm responsabilidade nas escolhas tomadas, mas o ponto é que o ambiente é de ninho de cobra.
Framing: mesmos fatos, realidades diferentes
Nessas condições, até que ponto uma menina de dezoito anos tem experiência e discernimento suficiente para saber o que está fazendo? Foi esse o ponto principal das críticas de Tyra Banks, em sua entrevista com a jovem estrela Sasha Grey, que já mereceu um post aqui no Falando sobre sexo.
Framing é o processo usado pela mídia para influenciar a percepção do discurso, definindo a mensagem usando diferentes elementos calculadamente inseridos na retórica. A equipe de Tyra trabalhou para estabelecer o
framing ideal para conquistar a audiência: Sasha como uma menina imatura sendo explorada pelo seu “cafetão”, o agente Mark Spiegler.
Para completar o cenário, a equipe de Tyra convidou uma menor de idade que se prostituía e uma ex-atriz pornô, fazendo comparações e julgando Sasha como irresponsável e um péssimo exemplo para outras garotas. O namorado de Sasha Grey também ficou sem resposta.
Uma imagem completamente diferente de Sasha Grey é apresentada no documentário
9 to 5: Days in Porn. Fruto de um
framing bastante diferente: Sasha aparece como a novata talentosa, que tem uma visão única sobre pornografia. Foi Sasha quem enviou uma longa carta ao agente Mark Spiegler, contando como ela gostaria de explorar a sexualidade na tela.
“Eu quero perversões, quero ver sujeira. Quero o fedor. Quero que seja criativo. Eu não quero… não quero a fórmula 1-2-3, sabe… boquete, buceta, dar o cu de quatro… não quero isso… e uma gozada na cara… Eu estou de saco cheio disso. É… é uma rotina. A pornografia deve ser sempre explorada com sexualidade em todas as suas formas” (tradução livre do clipe de Sasha Grey)
Pornô: uma festa estranha com gente esquisita
Impressionado com a declaração de Sasha? Então se prepare para sua filmografia: ela começa com tudo, filmando uma orgia com Rocco Siffredi no
The Fashionistas 2. Entre outras serelepadas, ela faz um outro vídeo transando com um sujeito vestindo uma fantasia de ursinho de pelúcia.
Cute.
Não espere por gente coxinha na indústria do entretenimento adulto. A galera radicaliza em todos os sentidos, inclusive na competição. As novatas que fazem sucesso também precisam lidar com as outras mulheres invejosas, que usam de todos os artifícios na competição.
Um exemplo é o que aconteceu na série de TV
Porno Valley. Em um teste para descobrir quem seria o novo talento da Vivid Entertainment, uma das meninas disse que sua concorrente estava cheirando mal e precisava lavar a buceta. O plano era constranger a concorrente diante das câmeras – coisa corriqueira.
Jenna também conta que as pessoas do convívio geral na indústria constantemente usam drogas e insistem em oferecer aos novatos. A pressão do grupo é grande e quem não tem uma solidez de realidade forte pode rapidamente
se perder nos narcóticos.
Enquanto as más companhias podem ser fator de preocupação, muitos preferem a corrente de liberdade de escolha. O produtor Pierre Woodman conta que quando chegou a Paris com dezoito anos estava sem um tostão furado e dividia apartamento com um homossexual que diariamente fazia propostas para comer sua bunda.
Pierre diz que nunca cedeu e até hoje eles são colegas. Com essa história, Pierre afirma que
as pessoas são responsáveis pelas suas próprias escolhas. Por ter sido um policial antes de entrar para a indústria de entretenimento adulto, Pierre vive uma filosofia livre de drogas, incluindo Viagra – pelo menos até o dia em que seu pinto não mais responder.
Porn Valley
O Porn Valley é o carinhoso apelido para San Fernando Valley, que fica do outro lado de Hollywood, em Los Angeles. O motivo do nome é que
90% dos filmes adultos americanos são produzidos ou editados no Porn Valley. Para decolar na carreira, atrizes de todo o mundo acabam se instalando nas redondezas.
Essa concentração geográfica contribuiu muito para a explosão da indústria. Na década de 70, quem filmava filme pornô estava sujeito a riscos de ser processado por distribuição de material obsceno. Tudo era muito underground.
Considerando o ambiente regulatório anti-pornografia e a dispersão dos produtores e atrizes, é com espanto que surgiram clássicos como
Deep Throat (1972),
The Devil in Ms. Jones (1973) e
Debbie Does Dallas (1978). Hoje tudo é mais organizado. Ou quase.
O lugar da putaria
Apesar dos custos de transação existentes, o que a cena “todo mundo conhece todo mundo” do Porn Valley trouxe de bom foi uma eficiente rede de proteção contra o HIV. Ou quase.
Antes de contar a história de como a AIDS foi do Brasil para o Porn Valley, paralisando a indústria e colocando todo mundo em quarentena, esclareço que gosto de pornografia e não sou falso moralista, mas também não estou fazendo apologia. Para ter neutralidade na abordagem, comecei contando “O Lado Negro do Pornô” para nos próximos textos apresentar o papel fundamental da pornografia no avanço tecnológico e de marketing digital.
Vamos agora continuar a série …
Estupradores e AIDS
Com a exposição que o trabalho gera, a chance de atrair fãs sinistros, psicopatas e sequestradores aumenta consideravelmente. O
Boteco Sujo conta como a Pamela Butt quase foi sequestrada duas vezes, mas escapou.
A atriz pornô americana Sharon Mitchell não teve a mesma sorte.
Em uma carreira que conta mais de dois mil títulos na filmografia, abuso de heroína e diferentes DSTs, em 1996
um fã psicopata a seguiu, esmurrou seu nariz e a golpeou repetidamente na cabeça para deixá-la inconsciente e a estuprar. Ela apenas não morreu por conseguir rastejar até a porta, onde deixava seus halteres. Mesmo com o nariz quebrado em cinco partes, Sharon conseguiu revidar aos ataques do estuprador com alguns quilos de ferro.
A experiência foi traumática. Sharon Mitchell largou o mundo do pornô e foi atrás de um Ph.D. em sexologia pelo Instituto de Estudos Avançados de Sexologia Humana. E hoje é a fundadora da AIM Healthcare – Adult Industry Medical Healthcare Foundation, uma organização sem fins lucrativos fundada para cuidar das necessidades físicas e emocionais dos profissionais do sexo através de testes de AIDS e programas de aconselhamento e terapia.
A doutora Sharon Mitchell teve um papel fundamental no controle do maior medo da indústria do pornô: AIDS. Com sua experiência, treinamento e contatos, ela conseguiu o respeito da comunidade do Porn Valley, que recebeu com satisfação seus serviços de testes HIV. Todos os atores fazem seus testes com regularidade, num exemplo de auto-regulamentação que funcionou por muitos anos, até dar merda por conta de uma brecha no sistema.
Darren James | Crédito: LA Times
O ator Darren James veio pro Brasil filmar pornô. Voltou para os EUA, fez testes que deram negativos e continuou filmando com outras atrizes. Em testes futuros, o resultado foi positivo. Surpresa:
os sinais do HIV podem demorar algumas semanas para aparecer no sangue.
É o que nosso querido Dr. Health explica com o conceito de “janela imunológica” nos comentários de seu texto inaugural:
“Trata-se do tempo que o organismo leva para formar anticorpos contra o vírus na vigência da primeira infecção. Ou seja, você transou sem proteção, acha que foi contaminado e fez o exame logo depois, digamos, dois dias. Este exame pode dar negativo mesmo se você tiver sido infectado, pois seu organismo necessita pelo menos um mês para produzir anticorpos em quantidade suficiente para o exame “positivar”. Esta é a chamada janela imunológica, e dura mais ou menos um mês. Em resumo: um exame HIV negativo indica que até o mês anterior, você não se contaminou!”
Pois é:
o sistema de testes é intrinsecamente falho, a não ser que cada participante da indústria de porn fique sem transar (tanto diante como fora das câmeras) sem camisinha durante algumas semanas para cada filmagem e novo teste. O tempo varia conforme o caso e o método usado para o teste. De todo modo, quem acompanha o ritmo de atores em alta demanda sabe que é muito comum que mais de uma foda seja feita por dia. É o caso de Darren James.
HIV: Who did you fuck? O gráfico está incompleto pois após sua divulgação outras atrizes também foram diagnosticadas soropositivas | Crédito: LA Times
De onde veio exatamente o bichinho? Ninguém sabe ao certo. Enquanto o que se alega nos EUA é que Darren James tenha contraído o HIV de Bianca Biaggi, a imprensa brasileira insinua que o ator tenha tido relações com travestis.
O caso deu um bafafá danado e no fim da história a possível epidemia foi controlada: quatro profissionais, incluindo Derren, foram localizados pela AIM. Uma das vítimas contaminadas era a novata canadense Laura Roxx, que esperava apenas filmar por curto período em Los Angeles para retornar ao Canadá. Seu primeiro parceiro foi Derren James no filme
Split That Booty 2 e foi nesse filme que ela condenou sua própria vida. As outras atrizes que também foram contaminadas são Miss Arroyo e Jessica Dee.
A fragilidade do controle baseado em testes de HIV está relacionada à janela imunológica e até mesmo a fraudes. Rolava uma história em que em Budapeste, capital do pornô europeu, tinha um soropositivo
usando o teste de seu irmão gêmeo e fazendo de tudo para infectar o maior número de pessoas da indústria.
É por essas e outras que alguns produtores de filmes gays, como Chi Chi Larue (que é também diretor de filmes hetero para a Vivid) insistem no uso da camisinha e não confiam nos testes.
É fácil culpar os produtores pela prática arriscada, mas o grande problema é que parte dos consumidores odeia assistir cenas com preservativo. Para não perder essa fatia de mercado, os produtores e atores arriscam sua saúde e bolso. Tanto Darren James como a iniciante Laura Roxx estão com processos na justiça contra aqueles que acreditam ser os responsáveis.
Minha experiência: descaso total
Tá precisando de um estímulo pra usar camisinha?
Já faz alguns anos que eu conheci a “Comunidade da Sedução” e, depois de trancos e barrancos, tentando diferentes técnicas e me encontrando com os tipos mais bizarros, consegui o resultado desejado, com excelentes memórias e experiências sexuais.
Em minhas presepadas, sempre usei camisinha, por saber que a prática de ter múltiplas parceiras aumentava minha exposição a algo indesejado. Como nunca usei droga injetável ou tive acidentes pérfuro-cortantes (as outras possibilidades de contaminação apontadas pelo Dr. Health), meu risco era praticamente zero.
Até quando conheci Nina,
uma croata de corpo exuberante e um coração de ouro. Foi daquelas paixões de mergulho, que imediatamente deixam ambos confortáveis e íntimos. Transamos sem preservativo.
Essa única vez serviu de lição. Fiquei preocupado, mas já estava feito… e a tensão no
post coitum ia aumentando. Quebrei o silêncio assegurando que era a minha primeira vez sem a borracha. Nina, mais aliviada, me disse que
era sua segunda vez.
Não sabia se eu ficava aliviado ou preocupado. A pergunta não quis calar e pedi mais informações. “Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer”: o outro parceiro era um desconhecido de balada.
One night stand. Pronto, fiquei paranóico.
Quando voltei ao Brasil, procurei um médico do plano de saúde para o check-up de rotina. Colesterol, essas coisas. Ah, por favor doutor,
marque também teste de HIV, que é bom ter, né? O médico não perguntou nada, atendendo prontamente meu pedido. Teste de HIV estava marcado logo abaixo do pedido de hemograma completo.
Na clínica, também tudo foi rotineiro. Não recebi qualquer orientação especial. Acho que junto com a papelada tinha algum folheto de comentários genéricos sobre AIDS. Aquelas coisas que a gente está cansado de ler e acaba pulando. Mas uma coisa que eu lembro é que o papel dizia que se o teste desse positivo, era pro paciente não entrar em desespero e fazer um segundo teste, pois poderia ser um falso-positivo, dada a sensibilidade proposital do mecanismo.
O teste deu negativo. Já aliviado, procurei por mais informações, só pra ter certeza. Afinal, se existe falso-positivo, talvez houvesse um “falso-negativo”…
E foi aí que conheci mais sobre a Janela Imunológica. Deixei passar o tempo necessário, e marquei o segundo teste. Somente com o segundo negativo é que fiquei tranquilo.
Bronca
O que me impressiona dessa história toda é como o sistema não está projetado para esclarecer essa brecha.
O teste do Darren James – e de todos os atores de filme pornô que ignoram a janela imunológica – é uma grande
ilusão de segurança.
Como até hoje eu participo da tal Comunidade de Sedução e por isso troco ideias com muitos leitores, fico preocupado com o que vejo. Vou aproveitar o espaço para meter bronca: é praticamente um crime não alertar com clareza que existe a possibilidade do negativo ser, no fim das contas, um “falso-negativo” se a janela imunológica não for observada.
Não adianta deixar uma explicação escondida em algum lugar que ninguém lê. Alô, autoridades de políticas públicas e saúde!
Cadê o alerta obrigatório sobre a janela imunológica?
Explico o que quero dizer: doei sangue anos atrás e lembro que antes de espetarem qualquer agulha, me perguntaram se eu tinha transado em troca de drogas ou dinheiro. E eu lá tinha cara de drogado ou michê?
Descobri mais tarde que essas perguntas eram parte de um procedimento padrão regulado pela ANVISA (Resolução 153 de 2004 que, entre outras coisas, define “Situações de Risco Acrescido”). Se existe algo regulado nesse nível de detalhes, por que não exigir também uma orientação clara sobre a possibilidade do teste não cobrir a janela imunológica?
Acho que isso é importante pois quem vai até um médico pedindo um exame de HIV, igual quem pede duzentos gramas de mortadela na padaria, geralmente tem alguma
história cabeluda escondida, mas disfarça com cara de paisagem:
• É aquela menina que durante anos só transou com camisinha, mas ontem o preservativo rompeu.
• É o gay ainda enrustido que, para se soltar mais, acabou exagerando no álcool e talvez tenha se enroscado com penetração no dark room de uma balada, mas ele não lembra direito.
• É o casal consciente que resolveu se dedicar a um relacionamento monogâmico e que combinou de fazer o teste antes de começar a transar sem camisinha.
• É aventureiro apaixonado transando no meio da antiga Iugoslávia sem proteção…
E outras infinitas possibilidades, que eu não preciso listar aqui.
O elemento comum é que quem vive apertos desse tipo vai correndo fazer o exame, sem saber todos os detalhes da janela imunológica. Principalmente quando a história é comprometedora, o paciente não sai explicando para o médico o motivo de querer o exame – reduzindo ainda mais suas chances de saber que o resultado negativo pode estar comprometido.
O momento da verdade
Quando eu pedi o meu exame,
não recebi qualquer orientação nesse sentido – mas talvez eu tenha tido azar na escolha do médico e da clínica. Talvez a culpa seja minha, pois falhei na minha responsabilidade como paciente em confiar e contar todos os detalhes.
No entanto, se o sistema assume que é o paciente quem tem a responsabilidade de espontaneamente dar detalhes dos motivos pelos quais quer o exame, ou se supõe que basta entregar um folheto explicativo no dia da coleta, eu desconfio que esse sistema não é confiável o suficiente. Na minha experiência, eu senti falta de profissionais mais proativos em esclarecer que pode ser que dois testes sejam necessários, ou aguardar alguns dias a mais antes de realizar o exame.
Imagine o potencial da merda em acreditar no teste como base para poder transar sem proteção sem levar a janela imunológica em conta… Aconteceu no mundo do porn e continua acontecendo fora, colocando todos nós em risco. Como poderíamos aperfeiçoar a conscientização pública?
Fonte: Papo de Homem