segunda-feira, 28 de março de 2011

Filmes Pornô e Mulheres

Um ex-templo metodista construído no século XIX – a igreja Berkeley, em Toronto, no Canadá – abrigará em 24 de abril o evento mais profano de sua história: a entrega do Prêmio do Pornô Feminista. A competição escolhe desde 2006 os melhores filmes pornográficos feitos para mulheres, e neste ano há 46 finalistas disputando um troféu em formato de pênis estilizado. Trata-se de um recorde de participantes. E de uma revolução. As mulheres, que sempre estiveram à frente das câmeras nesse tipo de produção, como atrizes, agora estão atrás das câmeras, dirigindo. Elas querem criar filmes que mostrem a sexualidade da mulher de uma forma mais positiva e que sejam, simultaneamente, mais excitantes para as próprias mulheres. Cineastas como a sueca Erika Lust, a alemã Petra Joy, a britânica Anna Span e a americana Tristan Taormino dizem que adequaram a pornografia às necessidades da mulher. “Os pornôs para mulheres mostram o que queremos ver: atrizes com quem possamos nos identificar, homens bonitos, mulheres tendo prazer e, claro, um pouco de romance”, afirma a canadense Alison Lee, gerente da Good for Her, loja pornô para o público feminino que organiza a premiação.

Esta onda de pornografia feminina é uma resposta a um fenômeno mais amplo. As mulheres viraram grandes consumidoras de conteúdo erótico. No Reino Unido, a consultoria Nielsen constatou que em apenas um ano cresceu 30% o número de mulheres que consomem pornografia por meio da internet. Nos Estados Unidos, segundo dados da consultoria Nielsen, as mulheres já representam 30% da audiência dos filmes adultos na internet. Uma enquete realizada pelo tabloide The Sun sugere que 66% das mulheres assistem a filmes pornôs e que 87% são casadas ou mantêm um relacionamento duradouro. As brasileiras não ficam atrás. Uma pesquisa feita pelo Ibope afirma que 28% do público dos sites adultos é feminino.

O principal fator que abriu às mulheres o acesso à pornografia foi a privacidade da internet. É o que diz a designer de moda carioca que prefere ser identificada como B., o pseudônimo que usa em seu blog A Vida Secreta, sobre sexo. Ela tem 38 anos e é consumidora de material erótico na internet desde 2003, quando conseguiu seu próprio computador: “Passei a buscar material mais ousado. Se não gostasse, simplesmente deletava”. A designer diz que gosta de filmes pornôs feministas porque neles a “química” entre os atores é fundamental. “Acho que toda mulher, mesmo as que curtem sexo casual, gosta de sentir um mínimo de envolvimento.” B. acredita que a pornografia melhorou sua vida sexual. “Descobri que é normal ser anormal”, diz.

As diretoras feministas colocam essa nova consumidora como alvo de seus filmes. Os enredos têm tramas mais complexas (algumas até com pretensões experimentais) em que os sentimentos das mulheres são levados em conta. Um exemplo, extraído do filme Five hot stories for her, da diretora Erika Lust: a mulher chega em casa e encontra o marido com outra, na cama. Em vez de terminar em ménage, como seria obrigatório num roteiro de pornô clássico, a cena toma outra direção. A mulher traída vai embora e procura sexo com outro homem. Há, nos filmes, muito sexo entre mulheres (há um mercado de lésbicas a ser atendido) e sexo entre homens, algo que excita as mulheres (a diretora Courtney Trouble se especializou em gays underground). Os homens são invariavelmente bonitos, em vez de truculentos. Se fosse possível resumir o movimento em um única imagem, seria algo como o seriado Sex and the citycom sexo explícito. Com essas inovações, subverte-se a lógica da pornografia que deixava as feministas iradas. Elas acusavam os filmes feitos por homens de degradar a imagem da mulher e de incitar a violência sexual ao mostrar apenas a realização de fantasias masculinas: mulheres submissas que fingiam prazer e serviam de objeto sexual. Uma frase da americana Robin Morgan resume o ponto de vista das feministas sobre a pornografia tradicional: “A pornografia é a teoria, o estupro a prática”.

A invasão da indústria de entretenimento adulto pelo ponto de vista feminino começou quando pioneiras, como a americana Candida Royalle, decidiram mostrar suas ideias. No fim da década de 70, Candida, então atriz pornô que se dizia insultada pelos filmes que ela própria encenava, procurava empresas dispostas a colocar no mercado os filmes que ela planejava produzir, seguindo o que sua consciência mandava. Ela diz que sonhava com filmes que excitassem de verdade as mulheres: com uma história criativa, e não um pretexto simplista para os atores tirarem a roupa em menos de meio minuto: “Queria ver homens que parecessem ter cérebro, e não apenas um pênis ereto. E que se preocupassem em dar prazer às parceiras”. Ainda na década de 80, Candida conseguiu uma distribuidora, montou a própria produtora, a Femme Productions,e começou a fazer sucesso com filmes como Three daughters, que contava as descobertas sexuais de três irmãs.

MULHERES QUE ASSISTEM PORNÔ

Cenas prá lá de picantes, eróticas, e não tão pornográficas assim. Quando elas escolhem um longa pornô, muitas procuram algo mais sutil, não tão explícito.

Por esta razão, a
os poucos já se observa algumas produções voltadas para elas, tramas cujo o foco é mostrar o prazer da mulher e a realização das suas fantasias, sem que ela seja tratada com um objeto.

Nos filmes pornôs femininos, a historia é mais elaborada e tem uma leve pitada de romantismo. Produções menos explícitas que as excitam mais. Em entrevista a revista Época, a diretora americana Candida Royalle, pioneira do pornô feminista, afirma que os pornôs comuns não atraem as mulheres porque geralmente eles têm o objetivo de despertar as fantasias dos homens, e não delas.

A designer carioca de 38 anos conhecida como "B" em seu blog "A Vida Secreta" - que aborda assuntos sobre sexualidade; contos eróticos, dicas de livros e o universo do sexo na rede - é fã do cinema europeu, principalmente de Pasolini, Almodóvar, Catherine Breillat, com suas cenas mais picantes. Ela começou a procurar filmes eróticos na internet por acaso, quando adquiriu um computador em 2003.

"Nunca gostei dos pornôs hardcore, por outro lado adorava aqueles pornôs soft feitos para a TV, mais açucarados. Filminhos tipo romance ou drama que tinham cenas apimentadíssimas. Também tenho uma queda doida por filmes europeus, por sempre ter uma cena de sexo explícito e perversão, disfarçado de "filme-cabeça". Passei a buscar alguns longas na rede, mas confesso que ainda hoje existem mais filmes que me desagradam do que agradam", opina.

Também autora de um blog, "J", que participa do "Vida Secreta" e assina canais adultos de TV a cabo, apenas encontrou filmes eróticos para o público feminino há dois anos "antes disso nem fazia ideia que existia".

"Na televisão alguns são bem interessantes, como um das meninas que apresentam histórias enviadas pelo público. Não é explícito demais, não há penetração como nos filmes. Isso é mais erótico porque apenas insinua e simula o ato", diz.

Ainda em relação às produções pornográficas, "J" acrescenta que geralmente nos filmes masculinos a posição do homem é sempre a de predador, "se relaciona com todas as mulheres, geralmente fáceis e safadas". Ela prefere filmes com casais ou menage, com dois homens e uma mulher. "Nada exagerado que não tenha a ver com a minha realidade. Não gosto dos filmes só de mulheres, esses eu nem assisto, não me excito com duas mulheres se beijando ou fazendo sexo", ressalta.

A designer lembra da nova safra de diretoras feministas que estão fugindo do comum (masculinos), como Erica Lust. "Já assisti alguns e gostei". Assim como "J", ela acha que nas produções masculinas as mulheres sempre são as que estão dispostas a realizar as fantasias. "Em filmes voltados ao mercado feminino, o que tenho percebido é uma necessidade de uma história que leve ao sexo e não uma pitada de sexo sem sentido".

Mas ao contrário de "J", ela gosta sim de assistir casais homossexuais (homens e mulheres) nos enredos. "É o meu gosto pessoal. Em uma produção dispenso closes ginecológicos, o resto todo me diverte", diz sem pudores.

As duas também discordam em alguns pontos sobre filmes pornôs femininos. Para "J", eles são mais sutis em relação à pornografia, e apostam em personagens inteligentes, mulheres decididas e sensuais, não tão submissas "Eles atraem pela história e não aquela atuação caricata", comenta.

"Mulheres gostam de pornografia sim, mas nem todas curtem o que está rolando por ai. Por isso o mercado está se estabelecendo e crescendo cada vez mais. Sinceramente não sei ainda se o pornô voltado para mulheres agrada a todas, mas certamente levar o tema à discussão já é um passo enorme", finaliza.

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